Moacyr Scliar

Moacyr Scliar foi um escritor brasileiro, autor de romances, contos, crônicas e histórias infantojuvenis. Suas obras apresentam elementos fantásticos e temas judaicos.

Moacyr Scliar foi um autor gaúcho da literatura contemporânea brasileira. Ele nasceu em 23 de março de 1937, em Porto Alegre. Mais tarde, fez faculdade de medicina, e, além de trabalhar como médico, publicou crônicas para diversos jornais do Brasil, de forma que ficou muito conhecido como cronista.

O escritor, que morreu em 27 de fevereiro de 2011, em Porto Alegre, escreveu obras marcadas por ironia, temática judaica, realismo fantástico, temas relacionados à medicina, além de crítica social. Scliar é autor de livros como Max e os felinos, A orelha de Van Gogh e o infantojuvenil O mistério da Casa Verde.

Leia também: Marcelo Rubens Paiva — outro escritor brasileiro contemporâneo

Resumo sobre Moacyr Scliar

  • Moacyr Scliar foi um escritor brasileiro.

  • Ele nasceu em 1937 e morreu em 2011.

  • O romancista, cronista e contista também trabalhou como médico.

  • Além de obras para adultos, o autor escreveu livros infantojuvenis.

  • Seus livros têm elementos fantásticos e ironia, além de temas da cultura judaica.

  • O mistério da Casa Verde é um de seus livros infantojuvenis mais famosos.

Biografia de Moacyr Scliar

Moacyr Scliar nasceu em 23 de março de 1937, em Porto Alegre, no Rio Grande do Sul. Seu pai era comerciante; e sua mãe, professora. Eram ambos judeus da comunidade israelita do bairro Bom Fim. Mais tarde, em 1943, o menino ingressou na Escola de Educação e Cultura, já sabendo ler, pois foi alfabetizado pela mãe.

Nessa instituição, foi premiado por um conto que publicou no jornal da escola. Em 1952, publicou o conto “O relógio”, no jornal Correio do Povo, em sua cidade natal. Além disso, começou a estudar no Colégio Estadual Júlio de Castilhos. Dois anos depois, foi vencedor do concurso de crônicas do periódico Folha da Tarde.

Em 1958, participou de um movimento de esquerda sionista, o Guarda Jovem. Em 1962, formou-se em medicina pela UFRGS. No ano seguinte, trabalhou no Serviço de Assistência Médica Domiciliar e de Urgência, no município de São Leopoldo. Em 1965, casou-se com Judith Vivien Oliven.

Recebeu prêmio da Academia Mineira de Letras pelo livro O carnaval dos animais, em 1968. No ano de 1969, começou a trabalhar na Secretaria de Saúde do Rio Grande do Sul. No ano seguinte, viajou a Israel. A partir de 1972, além de sua atuação como médico, ou a escrever crônicas para diversos jornais.

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No ano de 1976, recebeu o Prêmio Escrita, além do Prêmio Cidade de Porto Alegre. No ano seguinte, os prêmios Brasília e Guimarães Rosa. Em 1978, ocupou a direção do Departamento de Saúde Pública da Secretaria de Saúde do Estado do Rio Grande do Sul. E, em 1980, ganhou o Prêmio Associação Paulista de Críticos de Arte, o APCA.

Fez mais uma viagem a Israel em 1984, além de dar palestras na Alemanha. Ganhou o prêmio Jabuti em 1988; no ano seguinte, o Casa de las Américas. Já em 1990, ganhou o prêmio Pen Clube do Brasil. Novamente foi premiado com o Jabuti em 1993. Nesse mesmo ano, atuou como professor visitante na Brown University, nos Estados Unidos.

Ganhou o Prêmio Açorianos em 1997, além dos prêmios José Lins do Rego, em 1998, Mario Quintana, em 1999, e mais um Jabuti em 2000. O autor foi eleito para a Academia Brasileira de Letras no ano de 2003 e recebeu seu último Jabuti em 2009. Moacyr Scliar faleceu em 27 de fevereiro de 2011.

Moacyr Scliar vestindo o traje oficial da Academia Brasileira de Letras.
Moacyr Scliar foi membro da Academia Brasileira de Letras, eleito em 2003. (Créditos: Instagram | @moacyrscliar)

Características das obras de Moacyr Scliar

As obras de Moacyr Scliar apresentam como temas recorrentes a questão judaica e questões sobre imigração. Os personagens de suas narrativas costumam ter características incomuns. Os textos do autor têm caráter realista, discutem assuntos como desigualdade social, preconceito e discriminação.

Em alguns de seus textos, o autor imprime marcas de realismo fantástico. Além disso, suas obras têm traços irônicos, humor, lirismo e alegorias. Estão presentes também questões históricas, reflexões acerca da ética, além de temas relacionados à medicina e à saúde pública.

Veja também: Luis Fernando Verissimo — escritor brasileiro famoso por seus textos marcados pelo humor

Obras mais famosas de Moacyr Scliar

Contos de Moacyr Scliar

  • O carnaval dos animais (1968)

  • A balada do falso Messias (1976)

  • Histórias da terra trêmula (1976)

  • O olho enigmático (1986)

  • A orelha de Van Gogh (1989)

  • O amante da Madonna (1997)

  • Os contistas (1997)

  • Histórias para (quase) todos os gostos (1998)

  • Pai e filho, filho e pai (2002)

Romances de Moacyr Scliar

  • A guerra no Bom Fim (1972)

  • O exército de um homem só (1973)

  • Os deuses de Raquel (1975)

  • O ciclo das águas (1975)

  • Mês de cães danados (1977)

  • O centauro no jardim (1980)

  • Max e os felinos (1981)

  • A estranha nação de Rafael Mendes (1983)

  • Cenas da vida minúscula (1991)

  • Sonhos tropicais (1992)

  • A majestade do Xingu (1997)

  • A mulher que escreveu a Bíblia (1999)

  • Os leopardos de Kafka (2000)

  • Uma história farroupilha (2004)

  • Os vendilhões do templo (2006)

  • A palavra mágica (2006)

  • Manual da paixão solitária (2008)

  • Eu vos abraço, milhões (2010)

Obras infantojuvenis de Moacyr Scliar

  • Cavalos e obeliscos (1981)

  • A festa no castelo (1982)

  • Memórias de um aprendiz de escritor (1984)

  • No caminho dos sonhos (1988)

  • O tio que flutuava (1988)

  • Os cavalos da República (1989)

  • A colina dos suspiros (1999)

  • O mistério da Casa Verde (2000)

  • Aquele estranho colega, o meu pai (2002)

  • O irmão que veio de longe (2002)

  • Nem uma coisa, nem outra (2003)

  • Navio das cores (2003)

  • Livro de todos, o mistério do texto roubado (2008)

O mistério da Casa Verde, de Moacyr Scliar

Um homem observa três garotos entrando pela porta, ilustração da capa do livro O mistério da Casa Verde, de Moacyr Scliar.
Capa do livro O mistério da Casa Verde, de Moacyr Scliar, publicado pela editora Ática.[2]

O mistério da Casa Verde é uma famosa obra da literatura infantojuvenil brasileira. Os personagens são adolescentes, sendo Arturzinho o protagonista. Esse adolescente de 16 anos cria um clube com sede em um casarão abandonado, na cidade de Itaguaí, no Rio de Janeiro.

Há mais ou menos 200 anos, o casarão foi um hospício e se chamava Casa Verde. Tal lugar teria sido inspiração para o escritor realista Machado de Assis criar O Alienista, sua famosa e irônica narrativa. Fazem parte do clube de Arturzinho seus amigos André Catavento, Leo e Pedro Bola.

Ao invadirem o velho e supostamente abandonado casarão, os adolescentes percebem que seu interior está intacto e limpo. Ali, no “meio da sala, sentado em uma grande cadeira e de frente para eles, estava um homem. Um homem estranhíssimo: desgrenhada cabeleira grisalha, imensa barba, e os olhos — que olhos, aqueles! De sob as espessas sobrancelhas, miravam fixo os garotos, com um brilho verdadeiramente hipnótico”.

Assustados, eles fogem da casa, que pode ser mal-assombrada. Agora os adolescentes estão diante de um mistério. Como aquele homem está vivendo naquela casa abandonada e com o interior tão preservado e ninguém sabia disso? Será ele um fantasma ou tudo que viram foi imaginação?

Os amigos então decidem conhecer o misterioso morador da Casa Verde, que se identifica como alienista. Para desvendar o mistério, os adolescentes acabam mergulhando na história do livro O Alienista, de Machado de Assis. Dessa forma, o livro de Scliar apresenta elementos intertextuais.

Crônicas de Moacyr Scliar

Moacyr Scliar escreveu crônicas para jornais como Zero Hora (Porto Alegre) e Folha de S. Paulo. As crônicas do escritor apresentam humor, ironia, traços ficcionais, elementos cotidianos, foco na imperfeição humana e nos conflitos da classe média, além de acontecimentos incomuns. O autor publicou os seguintes livros de crônicas:

  • A massagista japonesa (1984)

  • Um país chamado infância (1989)

  • Dicionário do viajante insólito (1995)

  • Minha mãe não dorme enquanto eu não chegar (1996)

  • Porto de histórias (2000)

  • O imaginário cotidiano (2001)

  • A língua de três pontas (2001)

  • O olhar médico (2005)

  • Histórias de Porto Alegre (2005)

  • Histórias que os jornais não contam (2009)

  • A poesia das coisas simples (2012)

  • Território da emoção (2013)

  • A banda na garagem (2014)

  • A nossa frágil condição humana (2017)

Uma crônica marcante do autor, publicada em 1977, é A nostalgia de Hitler, da qual destacamos um trecho:

Se Adolf Hitler tivesse vivido entre os elefantes, até hoje ele estaria sendo lembrado. Mas ele viveu entre seres humanos — uma espécie que, aparentemente, tem memória curta. As notícias o demonstram: não só existe hoje na Europa uma quase total ignorância a respeito do nazismo, como a figura de Adolf está agora revestida de uma auréola mágica. “Adolf Hitler, Superstar” — diz uma revista europeia. Um Führer glamorizado reaparece agora em livros e filmes. As suásticas reaparecem. Há partidos neonazistas em várias partes do mundo. E na Argentina tivemos, até há pouco tempo, uma onda de antissemitismo de inspiração nitidamente nazi, para o qual o caso Gralver (o financista que girava com o dinheiro dos montoneros) serviu de estopim.

Será que o nazismo está voltando? — me perguntaram jovens estudantes a quem, faz umas semanas, dei uma palestra. Na realidade, o nazismo nunca desapareceu totalmente; sob disfarce, ele permanece vivo e atuante em várias partes do mundo. Onde quer que tenhamos a intolerância, a repressão, o racismo, o velho Adolf estará presente, em espírito. Na Rodésia, por exemplo, ele estaria bem à vontade. Nem por isso, contudo, devemos ficar paranoicos. O Terceiro Reich não foi um episódio isolado, uma espécie de praga que se abateu sobre a humanidade; foi um movimento com raízes socioeconômicas e psicológicas perfeitamente identificáveis. Foi, em resumo, a expressão do desespero de forças econômicas acuadas. Atualmente, a direita (da qual o nazismo é o expoente máximo) não parece tão desesperada assim. Nem os povos estão despreparados. Os tempos são outros; mas isso não nos deve dar descanso. Ao contrário. Precisamos falar no assunto, discuti-lo tanto quanto possível. Os totalitários se refugiam no silêncio e nas sombras.

Mas enfim, já que a moda Hitler está aí, e já que muita gente está faturando em cima do assunto, aqui vão algumas sugestões a respeito de como aproveitar a popularidade de Hitler — especialmente na sociedade de consumo, capaz de comercializar qualquer coisa.

Eis alguns lançamentos de sucesso garantido:

— Fogões a gás Terceiro Reich: extremamente limpos, silenciosos e econômicos. Equipados com forno crematório.

— Uma dança para entrar na moda: o rock de Adolf. Um o adiante, vários para trás. Uma volta para a direita. Um discurso inflamado. Termina com o fuzilamento do parceiro.

Reich-Ball: é um jogo semelhante ao futebol, só que jogado em campo de concentração, rodeado de cercas eletrificadas. Uma vantagem desse jogo é que as equipes estão permanentemente concentradas, o que lhes dá uma disciplina invejável. O jogo, apesar do nome, não tem bola. Consiste em empurrar os adversários para câmaras especiais onde eles... Bom, seria de mau gosto descrever, ganha o time que consegue ter maior número de sobreviventes.

[...]

Macabro, tudo isso? Pode ser. Em matéria de mau gosto não se compara com as fotografias (autênticas) dos novos nazistas empunhando bandeiras com suásticas.

SCLIAR, Moacyr. A nossa frágil condição humana: crônicas judaicas. São Paulo: Companhia das Letras, 2017.

Saiba mais: Como escrever uma crônica narrativa

Frases de Moacyr Scliar

A seguir, vamos ler algumas frases de Moacyr Scliar, retiradas de seus textos O sonho da psicanálise, Médicos e monstros, A mulher por trás do DNA e Aflições dos escritores:

  • “A psicanálise do sonho realizou o sonho da psicanálise.” 

  • “A medicina surgiu, única e exclusivamente, para ajudar o ser humano.”

  • “O conhecimento é libertador e é para todos.”

  • “A vocação para a ciência não está unicamente no DNA masculino.”

  • “Há um momento na vida de quem escreve em que os livros começam a correr atrás dos autores.”

  • “Falem vocês da glória da literatura, eu só lembro as aflições.”

Créditos das imagens

[1] Wikimedia Commons

[2] Coletivo Leitor | Editora Ática (reprodução)

Fontes

ARRUDA, Angela Maria Pelizer de. O humor em contos de Moacyr Scliar: um representante da ficção contemporânea. Arquivo Maaravi, Belo Horizonte, v. 6, n. 11, out. 2012.

GUIMARÃES, Lealis Conceição. As crônicas de Moacyr Scliar na Folha de São Paulo: um jogo paródico. Terra e cultura, Londrina, v. 1, n. 32, p. 120-125, 2001.

NEVES, Fábio Luis Silva. Quando é preciso narrar o incomunicável: narração, foco, atmosfera e alegoria em Na minha suja cabeça, o Holocausto, de Moacyr Scliar. Miguilim, v. 6, n. 2, p. 111-130, maio/ ago. 2017.

SCLIAR, Moacyr. O mistério da Casa Verde. São Paulo: Ática, 2000.

SITE OFICIAL DE MOACYR SCLIAR. As crônicas de Scliar. Disponível em: https://www.moacyrscliar.com/cronicas-de-scliar/.

SITE OFICIAL DE MOACYR SCLIAR. Cronologia de Moacyr Scliar. Disponível em: https://www.moacyrscliar.com/sobre/cronologia/.

SITE OFICIAL DE MOACYR SCLIAR. Textos de Moacyr Scliar. Disponível em: https://www.moacyrscliar.com/textos-de-moacyr-scliar/.

ZILBERMAN, Regina. O escritor. Disponível em: https://www.moacyrscliar.com/sobre/o-escritor/. 

Moacyr Scliar segurando um microfone.
O escritor brasileiro Moacyr Scliar.[1]
Publicado por Warley Souza

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